domingo, junho 9

Crônica: O Foco do Guerreiro.



"Antigamente, quando poetas contavam poemas com suas vozes amagas e dizendo peremptoriamente quais foram seus feitos em batalha, apenas contavam o que ouviam dizer, afinal, um poeta não duraria mais do que um mero minuto em uma linha de frente de batalha.

Os poetas contam o que lhes é contado, os poetas realmente não sabem o que um guerreiro realmente está sentindo em seu corpo quando está frente a frente com seu inimigo, um poeta não sabe como um guerreiro intrépido que nunca foi corrompido por ninguém e tem sua armadura despedaçada quando uma verdadeira mulher, aquela mulher que lhe faz perder o sentido da vida e realmente cega-lo de uma forma que até mesmo seus familiares e amigos mais íntimos tomam a forma de um verdadeiro e poderoso dragão de fogo.

Hoje estou velho, velho demais para me preocupar em quem amo, mas quando adormeço, rezando à Wodan e Donar para me tirarem desse mundo infestado de infelicidade e me reencontrar com todos meus inimigos nos grandes salões de Walhalla, ainda posso ver a imagem de seu rosto.

Tive muitos paixões em minha vida, confesso, e posso lhes dizer que nenhum ferimento em batalha é mais doloroso do que o dano causado direto na alma, um ferimento vazio, sem dor e sem sangue, sem gritos ou qualquer som, um inimigo sem armas ou escudos, sem lanças ou machados, um inimigo mais silencioso do que todo Ginnungagap.

Mesmo estando com quase 90 anos, me recordo de seu rosto, de seu cabelo, de seu jeito, de como me tratava, mas, quando pretendo me aprofundar nos meus sonhos e tentar revive-los com um pouco mais de calma, as Norns gargalham do pé da Árvore da Vida e me despertam de meus sonhos distantes onde nenhum homem pode chegar.

Todos os dias eu pedia a ele, que mesmo ferido, transpassador por sua lança mágica chamada Gungnir, ficou assolado de ponta-cabeça nos galhos da Árvore da Vida e negociou um de seus olhos para adquirir conhecimento eterno sobre todas as coisas. Odhin, me deu respostas enquanto pode mas o amor é muito ofusca suas visões até mesmo para as coisas mais importantes e num ataque de loucura para conceder ao meu destino o que eu queria e não o que estava tecido para mim, caí sobre meus joelhos.

Ainda tenho muitos ferimentos de minhas batalhas, preciso andar apoiado sob um pedaço de um tronco de carvalho cujo pretendo levar ao Walhalla quando eu morrer, quero mostrar aos meus inimigos o que lhes estaria esperando para confortar sua velhice, um velho tronco de carvalho usado como bengala, com seu corpo encravado de runas e no topo, onde eu apoio minha mão direita cerca de 57 amuletos de martelo, os quais pretendo leva-los junto aos grandes salões para que me reconheçam e possam leva-los para toda a eternidade..."

(Continua...)

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