domingo, janeiro 26

Crônica: O foco do guerreiro, 02: Barulho no céu.




Beorstigen nunca foi uma cidade muito barulhenta, mas aquela noite estava, mas não por causa das pessoas... 
Essa noite era a chuva que fazia barulho.
Os antigos, inclusive meus pais que eram gigantes perto de mim, diziam que a chuva nos trazia boa sorte e ao seu chegar todos deveriam tocar seus amuletos, colocar suas camisas e agradecer a visita do deus ruivo...




Voltando de meu treino diário, meu treino de espada, de escudo e machado, subindo a quinta oeste rumo à minha casa na noite silenciosa que Beorstigen nos proporcionava, juntamente com o cheiro peculiar de esgoto e restos de peixe deixado na sarjeta pelos mestres pescadores, eu comecei a ouvir alguns sons vindo do céu... Não era de pássaros, tão pouco de flechas... Eram cavalgadas.

Um cavalgada pesada, eu nunca ouvira algo parecido. Algo como dois animais gigantes, projetando sons de trovão e marcando o céu com relâmpagos, até que eu vi uma silhueta, ora azul, ora prateada de um gigante em uma biga, e nessa biga havia dois animais de origem caprina com chifres gigantescos. Esse gigante portava uma arma, não identifiquei se era um martelo ou uma marreta, gostaria de enxergar direito aquela obra magnífica, porém, numa velocidade nunca antes vista, o céu ficou totalmente branco e minha visão ofuscada, eu ouvi vozes aquela noite, ora risadas, ora gemidos de dor... Foi desesperador ouvir aquilo e não fazer nada...
Era eu quem gritava.

Na manhã seguinte, misteriosamente eu acordei rente a porta de minha casa, tangente à mim, minhas armas, meu escudo pintado com o símbolo de um drakkar e um chifre, do qual não pertencia a mim. Um chifre curvo, semi enrolado, no qual deixei ali, não por medo, anões não tem medo... Só por precaução.

A chuva torrencial havia começado, já era praticamente noite e o sol já havia se colocado atrás das montanhas. Sob chuva, fui à minha casa. 

Cheguei ensopado, agradeci por aquela noite estar chovendo para não parecer que os pingos em meu rosto eram lágrimas. Eram.
Me sentia confortável ao lado da lareira.

Contei sobre a noite passada ao meu cachorro, Tornado, contei sobre os tremores, os passos, a cavalgada e os gritos e gargalhadas. Ele prestava toda atenção e começou a chorar, assuntando-me. 

Thor havia me visitado, o deus ruivo, o deus da chuva, do carvalho e da guerra havia me dado um sinal, do qual, nem eu, nem minha mulher tivemos capacidade de interpretar. Seja qual for ele, como diziam os padres antigamente: Todo dia é um dia comum até eu aconteça alguma coisa. 
E naquele dia aconteceu... 

Eu o vi...

Thor se mostrou à mim...


Continua...


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