quinta-feira, dezembro 20

Ragnarök, O Crepúsculo dos Deuses.




Farei diferente neste post, ao contrario de todos os outros posts já feitos aqui no Dankzij, hoje foi fazer apenas minha análise do Ragnarök, já que estamos numa data que todos estão falando sobre o Fim do Mundo, é bom que os pagãos saibam alguma coisa sobre o nosso fim do mundo.

Como todos os mitos, Ragnarök pode ser analisado sob vários ângulo e compreendido em níveis diferentes. O enfoque principal, porém, será sempre o processo cíclico de destruição e reconstrução, de morte e renascimento, assim como também é a jornada da alma, que passa por etapas de finalização e recomposição, para assim alcançar novos patamares de evolução.
Alguns escritores fazem um paralelo entre o Ragnarök e o Apocalipse bíblico sincretizando Baldur como Cristo, Loki com o Diabo e a corneta do deus Heimdall com a trombeta do Anjo (multiplique tudo isso por -1, if u know what i mean). Mesmo que tenha recebido adaptações e retoques cristãos - na transcrição ou tradução -, não se pode afirmar que o Ragnarök seja um plágio cristão, pois as influências cristãs e as descrições apocalípticas (dos livros e as proferiidas nos sermões após a conversão), não possuíam a base mítica e mágica das crenças pagãs nórdicas, que as precederam por séculos.
Além da existência de conceitos semelhantes sobre o fim do mundo em outras culturas e tradições - como a iraniana ou celta -, o desenlace do Ragnarök representa o fim inevitável de um universo múltiplo, criado pela união de forças opostas e antagônicas: Fogo/gelo, gigantes/deuses. Tanto nos poemas e sagas islandesas, quanto dos Eddas, no folclore dinamarquês e sueco, encontram-se crenças populares sobre o fim do mundo, como o navio feito das unhas dos mortos, os monstros que devoram o sol e a lua, a queda das estrelas, a destruição do mundo por um gigante que se libertou do cativeiro, a terra submersa no mar, entre outras semelhanças como as descritas no poema  "Völluspa". Outros povos antigos também temiam o fim do mundo e o melhor vaticínio é encontrado em um ensinamento dos druidas que diz:" A alma e o mundo são indestrutíveis, porém virá um dia em que o fogo e a água irão prevalecer".
A destruição pelo frio ou calor intenso (o que diga-se de passagem, está acontecendo em São Paulo ... rs) e a submersão da terra por inundações eram temas corriqueiros da vida da população da Islândia, onde geleiras, gêiseres, lagos de água quente e erupções vulcânicas faziam parte do cenário natural. A presença quase permanente do frio intenso, das chamas e das nuvens de fumaça, além das ondas gigantes invadindo as praias, eram lembranças reais das catástrofes naturais e habituais na Islândia. Às imagens reais foram acrescentadas, com o passar do tempo, a mitos e histórias, enriquecendo a compreensão e aceitação da verdade histórica e do substrato mitológico. Os mesmos elementos míticos que tinham criado o mundo - fogo e gelo - podiam se tornar agentes da sua destruição, que seria seguida de uma reconstrução. A descrição poética da emergência de um novo mundo, purificado de todos os males e regenerado para começar um novo ciclo, pode ser vista como uma mensagem de esperança e sabedoria, que expressava crenças pagãs pré-cristãs e revelava o desejo universal do renascimento da alma após a morte física.

Além das inscrições rúnicas pré-viking sobre as pedras memoriais, encontradas em Skarpaler, na Suécia citando a inevitável destruição do mundo, existem pedras gravadas com cenas que evocam as descrições do Ragnarök, como as de um monstro com a mão e o pé (assim como Vidar fez para estraçalhar a boca do lobo Fenrir, que tinha matado Wottan, seu pai), um homem tocando uma corneta, outro lutando com serpentes, dois grupos de guerreiros se enfrentando, entre outras semelhanças comas descritas no poema "Völuspa".
Acredita-se que, no século X, existisse um amplo acervo de lendas, informações míticas e folclóricas e sobre o fim do mundo e o extermínio de deuses e seres humanos, que serviu como fonte de informação popular, pagã e pré-cristã para o Völuspa.

Na Islândia algumas cavernas vulcânicas se chamar Surthellr e havia várias histórias sobre Surt, um gigante dos vulcões que provocava sua erupção, jogando chamas e fumaça para o céu (Surt habitava Muspelheim e era possessor de uma Espada Flamejante  que no Ragnarök usou-a para incendiar os palácios de Asgard). A erupção do vulcão Skaptar Yökul, em 1783, lembra a sequência de eventos descritos em Völuspa: tremores de terra, a desaparição do sol debaixo de nuvens de fumaça e cinzas, as chamas derretendo as geleiras, catástrofe real era idêntica a descrição do poema, por isso é fácil compreender por que a elaboração do mito surgiu na Islândia, onde a interação do calor e frio, vida e morte era um elemento da realidade cotidiana. Mesmo que a destruição pelo fogo e pela água fizesse parte dos temores atávicos de vários povos, ela era mais presente nas regiões distantes do norte europeu, onde havia longos e gélidos invernos, mares tempestuosos, erupções vulcânicas ocasionais e persistiram durante séculos as antigas lendas sobre o fim do mundo e o seu renascimento do mar.
Embora seja fácil observar e compreender a semelhança entre os fatores ambientais, as circunstâncias naturais e sua assimilação e adaptação no poema Völuspa, permanecerem alguns enigmas e fatos inexplicáveis na narração dos episódios relacionados à participação das divindades. São mencionados os atos heroicos e a morte dos principais deuses e a sobrevivência de alguns dos seus filhos. No entanto, apenas uma deusa - Sunna - é citada, a sua mãe tendo sido morta pelo lobo que a perseguia e a filha com o mesmo nome assumindo a missão materna no Novo Mundo. Nenhuma outra deusa, nem mesmo as Valquírias, são mencionadas na batalha final, nem nos eventos subsequentes a ela. Essa omissão é estranha e surpreendente, dando margem a diversas suposições e questionamentos sobre a ausência das grandes deusas como Frigga e Freyja, as regentes da terra - Erda ou Nerthus  - e principalmente, as Senhoras do Destino, as Nornes, que tudo sabiam e teciam fatos e tempos na sua intrincada teia cósmica e telúrica. Essa lacuna torna-se inexplicável dada a riqueza de detalhes dos outros eventos narrados pela vidente. Existe uma menção, no mito Vafthruddhnismal sobre a sobrevivência das divindades Vanir e a morte dos Aesir, que descreve a chegada de três grupos de mulheres sábias vindas do além-mar e tornando-se protetoras da terra. Talvez elas tenham sido as Nornes, as Disir e as Valquírias; no poema Völuspa menciona-se a chegada ao inicio do mundo de três mulheres gigantes, sábias e poderosas, cuja função era determinar o destino, englobando fatos positivos e destrutivos. Acredita-se que, além da possível omissão voluntária dos colecionadores e tradutores (monges cristãos) dos textos originais, estava implícita na visão da vidente e permanente existência das deusas, sendo elas expressões e manifestações do princípio divino feminino, responsável pela geração, nutrição e sustentação da vida.

A comprovação está na continuidade do planeta Terra, que, purificado pelo fogo, renasceu renovado do oceano, o ventre primordial gerador de vida. O casal que sobreviveu depois de se abrigar em uma gruta (útero da Mãe-Terra) ou nos galhos de Yggdrasil se tornou responsável pela população da terra, sendo protegido abençoado pelas forças celestes e telúricas em um novo ciclo. O fato mais importante e evidente é que nenhuma deusa provocou ou participou da guerra e da destruição do Ragnarök, pois se sabe que, desde smpre as mulheres - por serem as que geram e protegem a vida dos filhos - relutavam em enviar seus filhos para serem mortos ou feridos, ou quem sabe vangloriados nas guerras. Elas mesmas somente participavam das batalhas para defender a si próprias ou as suas famílias dos ataques, saques ou violências dos invasores.


HAIL ASGARD!

IN ODIN WE TRUST!

Nenhum comentário:

Postar um comentário