Em todas as culturas e sociedades pagãs e nativas pré-cristãs existiram ritos de passagem, que representavam as mudanças de status e as transições da vida humana, basicamente o que fazemos no Facebook hoje.
Os povos nórdicos preservaram por mais tempo do que o resto da Europa seus antigos costumes (chamados forn sidr) devidoa à cristianização mais tardia; mesmo após a imposição dos novos costumes cristãos (nyr sidr) certos ritos de passagem continuaram a ser praticados, principalmente no interior da Escandinávia e da Islândia.
Infelizmente não existem registros escritos ou referências precisas sobre a maneira como os rituais eram praticados, nem sobre a finalidade de ritos específicos, além dos comuns às outras tradições pagãs, como batizado, casamento e culto dos ancestrais (Sim, em algumas religiões pagãs, o batizado era primordial).
Ritos de Nomeação
O escritor Edred Thorsson em seu livro Green Runa menciona duas cerimônias pré-cristãs: vatni ausa (aspergir com água) e nafn gefa (dar o nome). Ambas eram feitas pelo chefe do clã ou da família, nove dias após o nascimento de uma criança, o período necessário para que o recém-nascido tivesse se mostrado merecedor para ser integrado ao clã, devido à sua força vital, resistência física e poder espiritual. As cerimônias tinham a intenção mágica de auxiliar o processo de reintegração do complexo energético hamingja-fylgja no recém-nascido, servindo ao mesmo tempo para uma confirmação ritualística da reintegração do espírito na nova encarnação.
A hamingja era uma forma móvel de poder mágico, sendo o meio pelo qual o complexo formado pela combinação da consciência/ mente/ vontade (hugr) formava um novo corpo etérico e físico (hamr e lyke). A hamingja podia ser passada de uma pessoa para outra - parcial ou totalmente - através da reencarnação ou de uma iniciação sacerdotal, sendo uma força dinâmica que podia ser dividida e projetada para vários propósitos. A fylgja (ou fetch) era acoplada ao corpo astral e nele permanecia durante toda a vida de um indivíduo. O corpo mental (hugr) podia seguir para Walhalla ou Hel, enquanto o corpo astral ou duplo etérico (hamr) permanecia com o cadáver no túmulo e em certas circunstâncias tornava-se manifesto, sendo visível como draugar, os mortos-vivos. Porém hamingja e fylgja podiam acompanhar uma alma renascendo na mesma linhagem familiar ao longo de gerações, um ancestral morto recentemente, renascendo no seu descendente recém-nascido, algo difícil de compreender e aceitar do ponto de vista da doutrina espírita e de certos conceitos espiritualistas e dogmas religiosos. Explicações detalhadas sobre "A estrutura psico-físico-espiritual do ser humano" podem ser encontradas no livro Mistérios Nórdicos.
O nome dado a criança quando o Kyn fylgja (característica de um clã) se alojava em um dos reinos dos mundos sutis, ela aguardava o nascimento da criança certa à qual era iria se acoplar no momento da cerimônia citadas: vatni-ausa e nafni-gefa.
O nome dado à criança podia ser de um ancestral falecido recentemente, escolhido por ter sido percebido durante um sonho pela mãe durante a sua gestação, encontrado em uma visão ou mensagem espiritual, ou revelado pelas práticas mágicas e oraculares realizadas pelo pai, chefe de clã ou xamã. Após a cerimônia, a criança era considerada o ancestral renascido na família e no clã, recebendo proteção e direitos como os outros integrantes da família, não podendo mais ser morta por "exposição" na natureza (método usado para apressar o fim das crianças fracas, doentes ou com anomalias físicas - menos as meninas, portadoras do dom da fertilidade - que eram deixadas nuas perto das árvores de carvalho ou rios).
Consagração da União
O rito da consagração de uma união foi bem mais documentado e muitos dos seus vestígios foram preservados até os tempos modernos. Por ser o matrimônio uma importante instituição social, o casamento era celebrado de forma elaborada e seguindo certas regras. Além de representar um contrato legal envolvendo especificações de bens e herança, o casamento era a consagração de um pacto de união e ajuda mútua entre duas famílias, visando a segurança dos descendentes, pacto que necessitava da aprovação dos respectivos chefes de clã e dos pais dos noivos. A relação harmoniosa e produtiva do casal era uma importante contribuição para a prosperidade e paz familiar e comunitária, fato que requeria o consentimento e apoio de ambos os cônjuges. Os demorados processos - no nível legal, familiar, material e ritualístico (para invocar e garantir a proteção e as bênçãos das divindades) - culminavam com a festa, que devia durar no mínimo três (ou nove) dias.
Os procedimentos pré-matrimoniais se iniciavam com o envio de um emissário, mensageiro ou de uma delegação conduzida pelo pai do noivo para a família da noiva. Neste primeiro encontro eram discutidos e estabelecidos os termos da proposta de casamento: o dote da noiva, os presentes do noivo e dos seus parentes (bens que se tornavam propriedades da mulher, mesmo após o divórcio ou a viuvez e parte da herança aos filhos, a data da união e os detalhes da comemoração (ritual, lugar e festa).
Pouco se sabe do ritual propriamente dito, além das invocações feitas para que a deusa Var testemunhasse o compromisso e sua consagração, colocando o martelo de Thor no colo da noiva e pedindo proteção para Thor e prosperidade de Sif, sua consorte. Eram honradas outras divindades também, as Nornes, Frey [desculpe meu erro, não escrevi sobre Frey ainda], Frigga e Freyja.
O ponto culminante era uma procissão com tochas, levando o casal para a cama nupcial e as respectivas bênçãos para a sua felicidade, fertilidade e união duradora. Estes requisitos pertenciam apenas às classes dominantes, os servos e os escravos precisavam da autorização dos seus donos para se casarem, muitas vezes suas uniões sendo ilegais ou feitas às escondidas, por contradizer os interesses financeiros dos proprietários das terras.
Pacto de Sangue
Um ritual solene e específico da tradição nórdica era o "pacto de sangue", realizado entre pessoas do mesmo gênero (geralmente homens), em que era consagrada uma bebida misturando sangue de cada um, dela tomando os três goles tradicionais, enquanto ficavam com os braços entrelaçados no nível sutil, esse compromisso envolvia muito cuidado e prudência, pois ele entrelaçava não apenas os braços, mas também vibração e nível espiritual, para evitar uma possível "vampirização energética" posterior ou o enfraquecimento áurico ou espiritual de um dos "irmãos". Eventuais brigas, desavenças, maldições ou atos desonrosos de um dos "irmãos", provocavam máculas mútuas e atraíam a má sorte e os infortúnios do seu parceiro. O "pacto de sangue" era considerado um "casamento energético", o elo criado não podia ser rompido, nem mesmo pela morte, as dívidas e responsabilidades continuando a repercutir no plano sutil ao longo das gerações, daí a necessária cautela e discernimento antes que fosse realizado.
Ritos funerários
As crenças escandinavas e germânicas da vida pós-morte diferiam em função das épocas, dos lugares e dos cultos centrados na reverência a uma determinada divindade. O conceito comum era a ênfase na continuidade da unidade familiar, que atravessava tempo e espaço e ligava o mundo dos mortos com o dos vivos.
Na Idade do Bronze os mortos eram enterrados na posição fetal, dentro de túmulos individuais ou coletivos, em caixões rudimentares feitos de troncos de árvores. No final desta era começaram as cremações, as cinzas sendo guardadas em urnas e enterradas na terra. A cremação continuou durante as Migrações e depois da cristianização até o século XI. No Período Viking continuavam sendo feitos sacrifícios e enterrados juntos objetos, joias, armas e vestimentas dos mortos. Uma descrição usada pelos povos nórdicos em relação à morte de alguém era "foi se unir com seus parentes, que foram embora para as colinas antes dele", significando a reunião familiar, seja no nível espiritual (nas moradas dos deuses), seja no plano físico (nas colinas mortuárias ou os túmulos familiares).
Geralmente o processo da morte era visto como uma viagem e a palavra alemã para ancestrais é Vorfahrem, "aqueles que foram antes". A imagem mais comum nos enterros era o barco, sua réplica física em tamanho natural sendo usada nos enterros das pessoas importantes, enquanto naqueles de pessoas simples era colocada no túmulo uma pequena representação de barco, ou o túmulo era cercado por pedras delineando um barco. Na ilha de Gotland as imagens mais frequentes nas pedras funerárias mostram navios ou cavalheiros, às vezes o cavalo tendo oito patas representando Sleipnir, o cavalo de Odin, por ele enviado para levar os mais honrados chefes e guerreiros para Walhalla. Para os mortos mais pobres eram colocados nos túmulos ou nos seus pés os pecados calçados de Hel, para que eles pudessem andar, sem se afastar ou extraviar do caminho para o reino da deusa Hel.
O nome da deusa Hel foi distorcido e usado pela Igreja Cristã para designar o inferno (Hell - em inglês), local de punição dos pecadores e desprovido de simbolismo complexo de Nilfhel. Em lugar de compreender a dualidade dos atributos da deusa Hel - como regente da morte e ao mesmo tempo guardiã e protetora dos espíritos até o seu renascimento.
Bom folks, é isso. Espero que tenha agregado algo aos seus conhecimentos mútuos, como dizem na língua dos anões de J.R.R Tolkien,
SHAMUKH RA MUKHUH TURGIZU TURUG USGIN!
(Hail e que sua barba continue a crescer mais em Khuzdul)